Em 2010, o administrador William Oliveira, de 22 anos,
decidiu se matricular em uma academia de ginástica. O objetivo era o mesmo que
motiva muitos homens: ganhar massa muscular. Afinal, para muitos deles o corpo
musculoso é a maneira mais fácil de fisgar olhares femininos.
Mas para o resultado
aparecer é necessário disciplina, treino e muita paciência, um conjunto de
fatores separado da maioria dos seres humanos por grandes quantidades de
ansiedade e imediatismo. Às vezes, e não muito raramente, mesmo seguindo um
treinamento com rigor, os efeitos acabam ficando distantes do esperado,
principalmente para os tipos físicos fadados pela genética a uma constituição
mais enxuta. É nessa hora que uma ajuda extra pode ser bem-vinda.
Por meio de conversas com amigos e
instrutores da academia, William descobriu a saída para transformar seu corpo
esguio de 49 quilos e 1,72 metros de altura e alcançar logo seu objetivo:
suplementos alimentares. “Queria melhorar meu desempenho e ganhar musculatura
mais rígida. Adotei a recomendação dos meus amigos e passei a tomar massa
hipercalórica e creatina”, explicou. Mesmo sem indicação nutricional, ele
obteve resultados e, dois anos depois, conseguiu chegar aos 65 quilos com 4,5%
de gordura, ou seja: os 16 quilos ganhos foram de musculatura, e não de
gordura.
É assim que a maioria dos alunos de academia
entra no universo da suplementação, por indicação de quem já usou e garante os
resultados. Mas a nutricionista Vivian Ragasso, do Centro Olímpico e do
Instituto Cohen de Medicina do Esporte, ressalta que o resultado alheio não é
comprovação de eficácia. “Em geral, o instrutor não estudou nutrição, então não
é da competência dele prescrever suplementação. É preciso saber como é a rotina
alimentar do aluno, se há deficiência de nutrientes, se a quantidade e
intensidade de exercícios pedem suplementação ou se suas necessidades já são
supridas pelas refeições. Fora isso, ainda é necessário fazer uma avaliação
clínica do aluno, para saber se há deficiência hormonal, problemas cardíacos,
renais ou hepáticos”, reforça Ragasso.
Já a presidente da
Associação Brasileira de Nutrição Esportiva, Heloisa Guarita, adverte que o
grande problema da autosuplementação é que nem sempre o usuário conhece seu
funcionamento e, principalmente, seus componentes. A fotógrafa Mylena Perdomo
quase caiu nessa. Em busca deemagrecimento rápido, seguiu a indicação de uma
amiga e optou por tomar um termogênico, que altera a temperatura do corpo
visando intensificar a queima de gordura. Ao checar o rótulo do suplemento,
entretanto, viu que entre os componentes estava um medicamento que ela já
tomava para regular a tireoide. “Liguei para um parente que é médico e ele me
orientou para que eu não tomasse o remédio, pois poderia desregular a produção
natural do hormônio, que já é deficiente no meu corpo. Ao mesmo tempo, o
suplemento não podia substituir o meu remédio, que possui outros componentes
para o controle da tireoide”, conta.
“É comum suplementos da
classe dos termogênicos conterem hormônios para controlar a tireoide, uma vez
que alterações nessa glândula provocam, em última instância, mudanças no peso. Mas seu uso
inadequado pode futuramente descontrolar a produção natural e trazer problemas
que antes eram inexistentes”, explica Guarita. O termogênico em questão era o
Lipo Black 6, que recentemente foi incluído na lista de produtos proibidos pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), junto com o também termogênico
OxyElite e o pré-treino Jack 3D.
Pré-treino, aliás, foi um dos suplementos
experimentados por William. Esse tipo de produto funciona como um vasodilatador
que facilita a passagem de oxigênio e nutrientes pelos vasos sanguíneos,
fazendo com que eles alcancem rapidamente as células musculares, aumentando a
oferta de energia. A ideia é que, assim, o aluno aguente cargas maiores por
mais tempo. Apesar de ter percebido esse efeito, o administrador confessa que
sentiu também reações adversas. “Senti formigamento e insônia, mas agora meu
organismo já acostumou e não sinto mais nada, só ficou o efeito estimulante do
produto”, relata.
A nutricionista Vivian Ragasso explica que
William “não sentir mais nada” se deve ao fato de que o organismo acabou se
viciando, uma consequência comum do uso do produto, e os sintomas acabaram
“maquiados”, dando a impressão de que desapareceram.
Fonte:http://drauziovarella.com.br / Tainah Medeiros